A Inglaterra acaba de marcar no último minuto e fica à beira de eliminar Portugal nos quartos-de-final do Euro 2004: pum, 2-1 na Luz e vem tudo abaixo.

Só que o árbitro anula o golo de cabeça de Sol Campbell por falta de Terry sobre o guarda-redes.

O som do apito percorre todo o estádio entre o silêncio abrupto dos ingleses e a incredulidade muda dos portugueses.

Urs Meier diz ainda hoje que não viu falta nenhuma sobre Ricardo, agiu por instinto.

A vida do suíço nunca mais seria a mesma.

 

Bye-bye Inglaterra

Portugal eliminaria a Inglaterra nesse jogo, com um golo do guarda-redes Ricardo.

Teve de se recorrer às grandes penalidades (6-5), depois de 1-1 nos 90 minutos e 2-2 nos 120 minutos.

 

 

Panenka de Postiga e Ricardo sem luvas

É o jogo em que Ricardo descalça as luvas e defende o penálti de Darius Vassell. E de seguida marca o penálti decisivo, bate David James e apura Portugal para as meias-finais.

Épico.

Antes, David Beckham falhara o primeiro penálti de todos – atirou para as nuvens (o mesmo faria Rui Costa).

Tivemos ainda nessa série o panenka de Postiga e a cara incrédula de Deco.

 

O dia em que Ricardo tirou as luvas (e Postiga fez aquele panenka)

 

Golo aos 3 e empate aos 83

Começou tudo às mil-maravilhas para a Inglaterra.

Mal começara o jogo e já Owen estava a marcar um golo (aos 3 minutos).

Postiga só salvaria Portugal muito perto do fim (aos 83), com um cabeceamento certeiro.

É antes do prolongamento que a vida do árbitro iria mudar para sempre.

«Eu não vi de facto falta nenhuma sobre ricardo, mas sabia que tinha havido uma. o meu instinto disse-se que alguma coisa se tinha passado»Urs Meier na FourFourTwo

 

Golo de Sol não conta

Com o empate 1-1 e o jogo quase a acabar, Sol Campbell marca para a Inglaterra 2-1.

A bola de Owen vai à trave e na recarga o central do Arsenal marca o golo mesmo perto dos 90 minutos.

A jogada é anulada imediatamente pelo árbitro.

Apesar de todas as ameaças que o suíço recebeu e do que foi escrito nos jornais, o árbitro diz ainda hoje que tomou a decisão correta.

 

Campbell e Terry festejam segundos antes do árbitro anular | foto IMAGO

 

«Primeiro que tudo temos de ser absolutamente claros numa coisa: apesar de tudo o que se escreveu eu tomei a decisão correta em Lisboa. Não foi Sol Campbell a fazer a falta sobre o guarda-redes quando anulei o golo de cabeça dele no último minuto do tempo regulamentar – foi o John Terry» Urs Meier

O árbitro explica na edição de junho da FourFourTwo como tomou a decisão de anular o golo.

Foi tudo muito fácil, diz.

«Onde estava o guarda-redes Ricardo? Não vi as mãos dele a fazerem-se à bola. Por que é que não conseguiu erguer as mãos? Tomei a decisão muito rápido e apitei falta. Não havia golo»

Os jogadores ingleses ficaram furiosos – principalmente Campbell.

Para tornar tudo pior Portugal marcou rapidamente a falta e estava na zona de ataque momentos depois.

«A jogada acabou com um remate por cima da barra – graças a Deus que não marcaram senão seria o caos»

Mal a bola foi para fora os ingleses rodearam o árbitro.

O Campbell sprintou do fundo do campo para gritar com Meier a dizer que não tinha feito falta e a perguntar por que o golo tinha sido anulado.

 

Urs Meier e Ricardo durante o jogo | foto IMAGO

 

Campbell espantado

Expliquei-lhe calmamente que sabia que ele não tinha feito falta. E também admiti que não sabia quem tinha feito, que não tinha visto o que tinha acontecido.

Campbell ficou espantado

Meier diz que no resto do jogo ambas as equipas se portaram bem e que os jogadores ingleses não o pressionaram mais.

O mesmo não se passou com a imprensa.

«Acordei e tinha 16 mil emails na minha caixa do correio. eram todas em inglês – ameaças de morte e insultos. I’ll kill you, you fucking arsehole» Urs Meier

A polícia suíça telefonou a Meier a dizer que estava em perigo e que deveria ficar por Portugal. E que não poderiam garantir a sua segurança se quisesse voltar a casa.

A cara do árbitro estava em todas as capas dos tablóides ingleses – descobriram o email de Meier e publicaram-no, daí ao hatemail foi-se um fósforo.

 

Mal se vê o ricardo no momento do golo | foto IMAGO

 

Casa de segurança

Meier apagou todo os emails e desactivou a conta.

Nos dias seguintes foi perseguido por jornalistas. A pressão era tanta que o árbitro não podia sair do hotel.

Não podia ficar mais em Portugal e decidiu ir para casa.

Quando o avião aterrou tinha dois polícias à sua espera – levaram-no para uma terra chamada Baden, a 20 quilómetros de Zurique.

«fui levado para uma safehouse com instruções para permanecer ali até poder ir para casa. Nem sequer pude dizer à família e aos amigos onde estava»

Durou uma semana.

Meier pôde voltar a casa, nas montanhas e nos seis meses seguintes apanhava um susto sempre que ouvia falar inglês. “Foi horrível”.