Às vezes é assim. Quando todos esperamos muito por uma coisa, o universo não gosta de a oferecer.

Novak Djokovic apresentou-se na final do US Open para se tornar o terceiro homem de sempre a vencer os quatro Grand Slam numa temporada.

E também o tenista mais premiado em torneios dessa categoria — neste momento está empatado com Rafael Nadal e Roger Federer, todos com 20 títulos.

 

 

A grande notícia, que a todos surpreendeu, é que Djokovic é ser humano.

A derrota, em pouco mais de duas horas, num triplo 6-4, dá-nos esperança de que ele seja como nós, o que não deixa de ser uma notícia positiva.

 

 

O break sofrido ao primeiro jogo do encontro começou logo a levantar a neblina da pressão, os nervos de um momento tão crucial e tenso quanto este.

Desde a final de Wimbledon que Djokovic devia estar a contar os dias para este momento e isso sentiu-se nas pancadas, nas respirações, nos tremores.

 

 

Público com Djokovic

E é importante que se diga que o público do Arthur Ashe o sentiu.

Nunca o maior estádio do ténis mundial esteve tão junto do sérvio, nunca lhe disse tanto que queria viver com ele este momento histórico — o que não deixa de ser curioso, agora que queria poder contar aos netos que esteve lá, que esteve presente no momento em que Djokovic se tornou insuperável já gosta de um jogador que quase sempre apupou.

 

 

A coisa foi tão evidente que antes do décimo jogo da terceira partida, antes de Medvedev voltar a servir para vencer o torneio, o sérvio chorou de alegria, colocando a mão no coração em jeito de agradecimento — outro sinal que comprova que Djokovic é humano.

 

 

Quanto a Medvedev o melhor é não arriscar tal afirmação.

O russo esteve simplesmente intratável.

No primeiro set ganhou as 13 ocasiões em que colocou o primeiro serviço. E, de facto, foi com essa pancada que o russo mandou no jogo.

Serviu de forma perfeita durante todo o encontro e nunca deixou Djokovic acreditar, nunca deixou Djokovic ver uma cortina entreaberta, um rasgo sequer.

Para se ter uma ideia: o sérvio passou grande parte do jogo a subir à rede — algo muito raro no seu ténis.

 

 

Se ao serviço juntarmos a sua incrível profundidade de bola, o seu jogo sui generis, a sua frieza assustadora ficamos com uma ideia daquilo que combinado com a pressão que invadiu o número um mundial, foi a receita do sucesso.

A verdade é que foi a genialidade de Medvedev que vulgarizou Djokovic, imagem profundamente inédita e chocante.

 

Cenário irrepetível?

Aos 34 anos, o sérvio parece ainda pronto para ter inúmeras ocasiões de chegar aos 21 torneios do Grand Slam.

O mesmo não se pode dizer da possível vitória dos quatro majors numa mesma temporada.

Com este Medvedev, com o temível Zverev, com um mais maduro Tsitsipas, com todas as novas estrelas ainda sem barba que invadem o circuito, ah, claro, e com um Nadal e um Federer que teimam em não atirar a toalha ao chão, parece muito pouco provável que o cenário se repita.

 

 

Quanto a Medvedev, o armário dos grandes troféus ainda agora se abriu.

Tornou-se no sexto cidadão russo e terceiro homem, depois de Safin e Kafelnikov, a vencer um Grand Slam e tendo em conta que cada um deles só o fez por duas vezes não deve ser muito difícil superá-los.