A Netlfix tem andado ocupada por estes dias a produzir conteúdo sobre animais: primeiro foi com “Tiger King”, uma série surreal sobre o mercado ilegal de trigres nos Estados Unidos. E agora com o lançamento do documentário sobre a carreira de Michael Jordan, uma autêntica “besta” da NBA – no bom sentido da palavra.

Esta série, com o dedo da ESPN, já tinha dado um ar da sua graça em 2018 e depois em 2019, com um trailer. O mais fascinante é que as imagens de arquivo, a que uma equipa de filmagem teve acesso exclusivo na altura, que vemos, foram guardadas durante 20 anos porque Jordan não autorizava a sua publicação.

Logo ele, homem de sorriso fácil (mas sempre de lágrima no canto do olho, atenção) uma autêntica estrela dos anos 90, que depois se tornou num símbolo a seguir no basquetebol. Convenhamos que não era para menos, é que antes da era Jordan, os Chicago Bulls andavam pelas ruas da amargura a ver se não fechavam, mas assim que o recrutaram como terceira escolha, tudo mudou.

 

 

Conta-se agora que existe uma razão para o documentário não ter sido publicado antes: o presidente da NBA Entertainment dessa época, Adam Silver, vendeu a ideia a Jordan de fazer um documentário, Jordan aceitou, mas só seria publicado com a sua autorização. E porque será?

Bom, olhando para o primeiro episódio, é possível entender o porquê. Depois de voltarmos a relembrar aquela grande equipa, com Scottie Peppen ou Dennis Rodman à cabeça, de percebermos que até nesta série há um vilão – de seu nome Jerry Krause, director geral dos Bulls à época – e de Jordan ser equiparado ao Papa quando foi jogar a Paris, percebemos que Jordan, afinal, era um choninhas (mas daquele tipo de choninhas que depois vira máquina do desporto, atenção).

Conta o próprio que um dia, quando ainda era simplesmente um rookie em Chicago, estava num hotel com o resto da equipa, e foi parar a uma festa dos seus colegas, com direito a drogas e mulheres. Jordan recusou-se a participar e só hoje, passado tantos anos, já reformado, é que toca em álcool.

Ou seja, basicamente Michael – que passou a merecer chamado pelo nome verdadeiro ao dar o campeonato nacional à sua universidade na Carolina do Norte – não queria cá distrações. Só jogar, jogar, jogar. Nem a discotecas gostava de ir. Ah, mas tinha vícios: sumo de laranja e 7Up – vá lá, afinal não era assim tão choninhas.

Talvez o mais engraçado deste primeiro episódio é que, não sendo eu o maior adepto de basquetebol, não deixo de ficar ainda com mais respeito por Michael Jordan. É que depois de ter sido escolhido em 84’ ninguém achava que ele pudesse alcançar o sucesso que tinha.

 

His Airness Jordan nasceu há 32 anos

 

Principalmente porque “só” tinha 2’01 metros e, como dito anteriormente, os Bulls estavam a caminho de um poço sem fundo. Nem o próprio Obama, um “habitante de Chicago” (é assim que está na série, garanto), estava preparado para aquilo – e nós para o facto do ex-presidente ser teso que nem um carapau, sem dinheiro para ver um jogo da equipa da sua terra. Isto dá alento aos jovens jogadores e jogadoras com “apenas” 2’01 metros de poderem vir a ser alguém um dia.

Já o título “Last Dance” vem do relatório do treinador Phil Jackson, uma espécie de braço direito no banco de Jordan, que iria fazer uma última temporada a treinar os Bulls. Bem sabemos que faltam 9 episódios para terminar, mas, para quem não é assim tão fã deste desporto, esta série pode ser totalmente do seu interesse. Nem que seja pelo escárnio e maldizer que é bem capaz de sair de lá.

E mais: vivemos numa época em que cada vez mais idolatramos os nossos ídolos, principalmente no futebol, como Cristiano Ronaldo e Messi. Pois, mas nos anos 90, não havia cá sessões fotográficas de tanga a mostrar os peitorais e anúncios milionários a promover um shampô (talvez houvesse, mas não deveriam estar a dar a toda a hora na televisão, com mupis em cada paragem de autocarro).

Não, nos anos 90 as estrelas do desporto participavam em filmes de desenhos animados – Jordan participou em Space Jam, aquele que é considerado pela pessoa que vos escreve, como um dos melhores filmes do mundo.

 

 

E nos anos 90, os mais novos sonhavam ver os seus ídolos, mesmo que isso significasse ficar sem prendas de natal. Sim, lá para o meio do episódio, vemos dois miúdos a confessar isso mesmo. É o que dá querer ver a última dança de um dos maiores de sempre.