Mo Farah tem quatro títulos olímpicos, seis mundiais e quatro europeus. Tem o título de Sir, a mais alta comenda dada pela rainha de Inglaterra.
Mas não aguentou a pressão de guardar mais tempo o segredo.
Antes disso tudo era Hussein Abdi Kahin.
“Andei anos a bloquear tudo isto mas não conseguimos bloquear estas coisas para sempre”, conta no documentário The Real Mo Farah, produzido pela BBC e pela Red Bull Studios.
«A verdadeira história é que eu nasci na Somalilândia, no norte da Somália, como Hussein Abdi Kahin. Apesar do que foi dito no passado, os meus pais nunca viveram no Reino Unido. Quando tinha quatro anos o meu pai morreu na guerra civil e a minha família ficou dividida. Fui separado da minha mãe e trazido ilegalmente para o Reino Unido com o nome de outro menino chamado Mohamed Farah»
Assumiu a identidade de outro
Sabíamos que Mo Farah tinha tido um início de vida difícil como refugiado proveniente da Somália, que conduziu à vida de um grande campeão a representar o país que o acolheu, o Reino Unido.
Mas a história é outra. E a versão agora contada é ainda pior.
Through this documentary I have been able to address and learn more about what happened in my childhood and how I came to the UK. I'm really proud of it and hope you will tune into @BBC at 9pm on Weds to watch. pic.twitter.com/rqZe41gFm8
— Sir Mo Farah (@Mo_Farah) July 11, 2022
Aos 39 anos Farah/Kahin sempre disse ter chegado a Inglaterra com os pais, desde a Somália – confessou agora que veio do Djibuti aos nove anos, com uma mulher que não conhecia, que lhe atribuiu o nome de Mo Farah e que o obrigou a cuidar dos filhos de outra família.
Instalou-o num apartamento a oeste de Londres, em Hounslow, e roubou-lhe o papel com os números da família para ficar incontactável.
12 anos, escravo
“Durante anos fui mantido em cativeiro. Estive anos preso. Tinha que fazer os trabalhos domésticos para poder comer. Ela disse-me que se quisesse ver a minha família novamente não podia dizer nada. Muitas vezes trancava-me na casa de banho e chorava.”
Até aos 12 anos não podia à escola.
Foi só quando se matriculou no sétimo ano no Feltham Community College que conseguiu sair do pesadelo.
Contou a história ao seu professor de ginástica, Alan Watkinson, que o ajudou a obter a nacionalidade britânica após um longo processo.
Os serviços sociais entraram em acção e colocaram-no com uma outra família somali.
«Ainda sentia falta da minha verdadeira família, mas tudo começou a melhorar. Senti que um peso tinha saído dos meus ombros. Foi a partir daqui que o verdadeiro Mo apareceu»
Governo não vai agir
O governo britânico reagiu à revelação do atleta olímpico e disse pela porta-voz do ministério do Interior que nenhum processo “será instaurado contra Sir Mo Farah”.
Farah poderia perder a cidadania inglesa mas nenhuma medida será tomada, uma vez que tinha apenas 9 anos quando tudo aconteceu.