64 jogos, 172 golos e uma das melhores finais da história.
Nada mau para um país minúsculo no deserto, cercado pelos Emirados e Arábia Saudita e atirado para uma península em forma de polegar juto ao Golfo Pérsico, a encerrar de forma apoteótica uma década envolta em polémica desde que o Qatar foi anunciado como anfitrião.
Repetição
A Argentina repete 1978 e 1986.
Messi repete Maradona. França não é bicampeã seguida (e não repete a Itália 1934 e 1938 e o Brasil 1958 e 1962) mas Mbappé repete o Mbappé de 2018 e sai como o próximo-grande-herói.
E o melhor jogador deste Campeonato do Mundo (sem o título).
MELHOR JOGADOR
Mbappé
Desde 1994 que o melhor jogador do Mundial não era também o vencedor da prova. Desde Romário e o campeão Brasil portanto, nos EUA.
Em 1998, em França, o anfitrião foi campeão mas Zidane viu o prémio fugir para as mãos do brasileiro Ronaldo, derrotado na final.
Em 2002, o mesmo Ronaldo, campeão na Coreia/Japão viu o guarda-redes alemão, derrotado no último jogo, ficar com o troféu.
Giroud é o melhor marcador da França, Mbappé vai ser o melhor de sempre

Em 2006, Zidane, expulso na final por causa da cabeçada em Materazzi e ter perdido o jogo para a Itália, ficou com o prémio. Forlán, Messi e Modric – todos finalistas derrotados – venceriam a estatueta nos torneios seguintes.
Agora, em 2022, o Qatar voltou a dar o prémio ao vencedor do Mundial: e esse foi Messi.
Mesmo se Mbappé, com 3 golos na final (algo que só Hearst tinha conseguido em 1966 contra a Alemanha) e melhor marcador da prova com 8, tivesse feito um campeonato memorável.

O PIOR ONZE
Guarda-redes: Hennessy (Gales)
Defesas: Cash (Polónia), Kanaani (Irão), Khoukhi (Qatar), Carrasco (Bélgica)
Médios: Skov Olsen (Dinamarca), Bielik (Polónia), Zielinski (Polónia), Diatta (Senegal)
Avançados: Bale (Gales), Contreras (Costa Rica)
Haverá sempre Cristiano Ronaldo: um dos melhores jogadores de sempre chegou ao Mundial no meio de um furacão – sem clube e a acusar a pressão da idade.
Acabou o sonho de Portugal, continua o de Marrocos

Marcou um golo (de penálti contra o Gana), festejou outro que era de Bruno Fernandes, não gostou de ser substituído contra a Coreia, foi suplente com a Suíça e não evitou a derrota frente a Marrocos quando entrou na 2ª parte, impotente para evitar a eliminação.
Terminou a carreira em Mundiais eliminado nos quartos-de-final com apenas um golo.
"estás com uma pressa do caralho para me tirar foda-se" .. isto é o capitão da selecção nacional 🤷♂️🤷♂️ pic.twitter.com/HiUSUcZwMp
— João Laginhas (@in0c3nt3) December 2, 2022
O MELHOR GOLO
Aboubakar
Claro que houve a meia volta de Richarlison e o remate sem preparação de Mbappé no 2-2 na final, mas a classe, calma e souplesse de Aboubakar contra a Sérvia enche as medidas de qualquer um.
Esperou que o defesa deslizasse à sua frente e, no frente-a-frente com o guarda-redes, fez um chapéu perfeito.
O árbitro foi um chato e estragou aquele momento, mas o VAR repôs a verdade e os festejos soltaram-se.

A MELHOR DEFESA
Emi Martínez
Ainda temos na memória a defesa de Casillas (com o pé direito) quando viu Robben pela frente na final do Mundial da África do Sul em 2010.
Aí, o espanhol desviou a bola chutada pelo holandês.
Doze anos depois, o mesmo momento mas com protagonistas diferentes: o avançado francês Randal Kolo Muani isolou-se e ficou na cara do guarda-redes argentino Emi Martínez – aos 120 minutos do prolongamento.
Tal como Robben, Muani tinha tudo ali: o golo, a vitória e o título da França no pé direito do jogador do Eintracht Frankfurt.
A defesa de Martínez (com a perna esquerda) adiou a decisão do campeão para os penáltis. E aí seria mais uma vez decisivo.
Just saw this angle of the last minute Martinez save.
France bench were running onto the pitch to celebrate 🤯#FIFAWorldCup pic.twitter.com/KUuEf98XEq
— Tom Bellingham (@TomP1Bellingham) December 19, 2022
O PIOR GESTO
Martínez tinha acabado de chegar ao Olimpo: aquela defesa no último suspiro do jogo, as defesas decisivas nos penáltis, estava untado como campeão do mundo.
Por cima disso tudo, tinha sido distinguido com o troféu de melhor guarda-redes da prova.
Na altura de receber o galardão não teve mãos para o momento.
O MELHOR JOGO
A final do Mundial (e os quartos-de-final Argentina-Holanda)
A Argentina esteve envolvida nos dois melhores jogos do Mundial.
Primeiro, a partida dos quartas-de-final contra a Holanda: 2-0, 2-2 no 11º minuto de desconto, desempate nos penáltis (mais um recorde de 17 cartões amarelos na prova e um vermelho após o apito final).
Wout Weghorst, o gigante que fez tremer a Argentina

Não contente com este grande jogo, a Argentina repetiria o feito (com doses ainda mais dramáticas) na final com a França.
O mesmo 2-0 para os argentinos e depois 2-2; 3-2 no prolongamento e 3-3 de Mbappé. Tudo para penáltis.
A abuela ficou louca (e o Mundial entregou a coroa a Messi)

A MELHOR JOGADA
Vimos todos o que Messi fez a Gvardiol. O argentino fez gato e sapato do croata para assistir Álvarez para o terceiro golo e sentenciar as meias-finais: 3-0.
Pior que o golo, era a alma do croata derramada no relvado.
Se Maradona teve a sua assinatura em 1986 nos quartos-de-final contra a Inglaterra, Messi deixou-a no caminho para a final.
A jogada de génio que faltava no Mundial

OS MELHORES TRÊS MINUTOS
Os TRÊS minutos da última jornada do Grupo E.
Aí, durante esses 180 segundos (entre o minuto 70 e o minuto 73), Alemanha e Espanha estiveram eliminadas – enquanto Costa Rica e Japão seguiam para os oitavos.
COSTA RICA, ARE YOU KIDDING?
SPAIN AND GERMANY ARE OUT AS IT STANDS 😳 pic.twitter.com/mzj4aGekwa
— B/R Football (@brfootball) December 1, 2022
O sonho durou pouco, mas metade ainda se concretizou: os alemães ficaram mesmo pelo caminho e foi apesar de tudo a vitória germânica sobre os costa-riquenhos salvou os espanhóis, que perderam com os japoneses.
Confuso? Foi uma das melhores fases de grupo de sempre e alguns favoritos ficaram pelo caminho logo nesta primeira fase: casos da Bélgica, Alemanha, Uruguai, Sérvia ou Dinamarca.
O MELHOR ÂNGULO
Tivemos Geoff Hurst em 1966 – e até hoje ninguém sabe se a bola entrou mesmo na baliza da Alemanha.
Mas a de Tanaka, depois de muita tinta e ecrã terem sido gastos, entrou mesmo.

Outra coisa não seria possível com tanta tecnologia: chips na bola, nos jogadores, nas balizas ligados aos relógios dos árbitros. Mais o VAR.
Cada foto que vemos da bola mais parece fora. Mas sabemos que está dentro.

A PIOR FRASE
Messi disse que teve aquela sensação. “Tive a sensação de que este era o tal”, disse-o agarrado à Taça.
Essa foi a sua melhor tirada.
Mas depois teve uma pior. Ainda quente do jogo quentinho frente à Holanda não resistiu a meter-se com Weghorst.
O argentino interrompeu a sua entrevista rápida no fim do encontro para responder ao jogador holandês: “Estás a olhar para onde, estúpido?”. Excessivo achamos nós, mas fica como um dos momentos deste Qatar.
QUÉ MIRÁS BOBO
ANDÁ PA ALLÁ BOBO pic.twitter.com/s2D1lbOhj5— DjMaRiiO (@DjMaRiiO) December 9, 2022
O MOMENTO WTF
Quem é Salt Bae e por que raio estava a festejar com a Argentina?
É o momento mais íntimo e emotivo do Mundial, os jogadores argentinos cansados, exaustos, com as as suas famĩlias a tirarem fotos com a Taça mais sonhada e ambicionada do mundo.
Eis quando a seu lado aparece Salt Bae. Quem?
O chef turco Salt Bae, cujo nome real é Nusret Gökçe. Posou com quase todos os jogadores para a foto, junto ao troféu claro, incluindo um muito intrigado Messi.
O que estava aquela personagem ali a fazer na maior noite das suas vidas?