Acabou o animal mais belo a passear-se pelos courts de ténis.
Federer sai como entrou, gracioso como um suspiro: caiu o anúncio do fim da carreira de um dos maiores tenistas de sempre no Twitter, uma carta aos fãs, à família e claro ao ténis.
Aos 41 anos e depois de mais de 1500 jogos de ténis numa carreira de 24 anos Roger Federer diz adeus.
To my tennis family and beyond,
With Love,
Roger pic.twitter.com/1UISwK1NIN— Roger Federer (@rogerfederer) September 15, 2022
O corpo é que paga
Federer reconheceu que o seu corpo já não aguenta competir ao mais alto nível.
Atirou a sua despedida para a Laver Cup, a decorrer entre 23 e 25 de setembro. Vai ser esse o seu derradeiro torneio no circuito.
«Nos últimos três anos tive desafios na forma de lesões e operações. Trabalhei duro para voltar à minha melhor versão, mas também conheço as minhas capacidades e os limites do meu corpo. A mensagem que recebi foi clara. Tenho 41 anos. Joguei mais 1500 partidas nos últimos 24 anos. O ténis tratou-me melhor do que poderia sonhar e agora tenho de reconhecer que chegou o momento de terminar a minha carreira competitiva»
Último jogo com Nadal e Djokovic
A competição contará com as presenças dos três principais adversários da carreira de Federer:
- o espanhol Rafael Nadal
- o sérvio Novak Djokovic
- e o britânico Andy Murray
Como é uma competição entre tenistas europeus e do resto do mundo, o quarteto estará na mesma equipa.
Além deles, a equipa terá o grego Stefanos Tsitsipas e o norueguês Casper Ruud.
Do outro lado estará o canadiano Felix Auger-Aliassime, Taylor Fritz, o argentino Diego Schwartzman, o australiano Alex de Minaur e os americanos Frances Tiafoe e Jack Sock.
Fora do ATP
O suíço já não joga um torneio oficial desde julho do ano passado quando.
Em Wimbldon, o Grand Slam que mais venceu na carreira, chegou até aos quartos-de-final – acabou eliminado pelo polaco Hubert Hurkacz.
Há um mês e meio, Federer deixou de aparecer do ranking da ATP (a classificação soma os pontos dos últimos 12 meses) e o tenista ficou esse período inteiro sem jogar.
Dear Roger,my friend and rival.
I wish this day would have never come. It’s a sad day for me personally and for sports around the world.
It’s been a pleasure but also an honor and privilege to share all these years with you, living so many amazing moments on and off the court 👇🏻— Rafa Nadal (@RafaelNadal) September 15, 2022
40 jogos, 24 finais (9 em Grand Slam)
Ao todo, Federer e Nadal enfrentaram-se 40 vezes no circuito, com 24 vitórias do espanhol e 16 do suíço.
Federer tem vantagem na relva (3-1) e em piso duro (11-9). Na terra batida o domínio é de Nadal:14-2.
Os dois disputaram 24 finais, 9 em Grand Slams.
Em decisões de Majors, Nadal liderou 6-3. O espanhol derrotou Federer nas finais de Roland Garros (2006, 2007, 2008 e 2011), Wimbledon (2008) e no Australian Open (2009).
O suíço saiu vencedor diante de Nadal nas finais de Wimbledon (2006, 2007) e do Australian Open (2017).
O tenista nas palavras de Wallace
Num artigo de 2006 do New York Times intitulado “Roger Federer como Experiência Religiosa”, o escritor norte-americano David Foster Wallace (1962- 2008) cunhou o termo “Momentos Federer”, descrevendo momentos em que o atleta suíço fazia jogadas espantosas e aparentemente impossíveis nos courts.
O escritor juntaria este a um dos cinco ensaios do livro Teoria das Cordas.
Deixamos um excerto:
É quase impossível descrever a beleza de um atleta de elite. Ou até evocá-la. A direita de Federer é uma magnífica chicotada fluida, a sua esquerda a uma mão pode sair lisa, cheia de efeito ou cortada, sendo esta tão seca que a bola muda de forma no ar e derrapa pela relva mais ou menos à altura do tornozelo. O seu serviço tem uma velocidade de primeira e um nível de colocação e diversidade que não está ao alcance de mais ninguém. O movimento do corpo ao servir é ágil e nada excêntrico, distinguindo-se (na televisão) por uma rápida torção do corpo inteiro, como uma enguia, no momento do impacto. A sua capacidade de antecipação e noção do campo são sobrenaturais e o seu jogo de pés é o melhor na modalidade: em criança, foi também um prodígio no futebol. Embora tudo isto seja verdade, nada disto explica o que quer que seja, nem se aproxima da experiência de ver este homem a jogar. De testemunhar, em primeira mão, a beleza e a genialidade do seu jogo. É precisar abordar a sua estética de forma oblíqua, sem falar directamente dela ou, como São Tomás de Aquino fez com o seu próprio objecto inefável, defini-la negativamente, em termos daquilo que não é.