Primeiro o batom. Quando a câmara fez um close up da cara de Marta antes da marcação do penálti decisivo perto do fim do jogo a boca da jogadora mostrava um cosmético praticamente intacto.
Foi uma decisão pensada pela única jogadora a marcar em cinco Mundiais. Em França, aquela que é considerada a rainha do futebol feminino, defende a igualdade de género nas chuteiras e aposta no visual para faturar.
Hoje 20h00
Mundial de França
Japão vs Inglaterra
3.65 – 3.10 – 2.15
A brasileira entrou no Mundial de França sem nenhum patrocínio nas chuteiras. Descontente com a última proposta da Puma, Marta decidiu não renovar com a marca alemã e aproveitou para apoiar uma causa: usou chuteiras pretas com um logo rosa e azul da “Go Equal”, entidade que luta pela igualdade de género.
#BRAxITA Penalti! Marta se prepara para cobrança e marca o primeiro gol do Brasil. Com esse lance, ela é a maior artilheira de todos os tempos! QUE EMOÇÃO! pic.twitter.com/QhopAKywNz
— HuffPost Brasil (@huffpostbrasil) June 18, 2019
Marcou o golo aos 74 minutos contra a Itália 1-0, apurou o Brasil para os oitavos de final e tornou-se a melhor marcadora de sempre em Mundiais, ultrapassando Miroslav Klose.
1.º Marta (Brasil) 17
2.º Klose (Alemanha) 16
3.º Ronaldo (Brasil) 15
4.º Birgit Prinz (Alemanha) 14
5.º Abby Wambach (EUA) 14
6.º Gerd Müller (Alemanha) 14
Foi o segundo golo de Marta no Mundial de França. Seis vezes considerada a melhor jogadora do mundo, repetiu o que tinha feito nas anteriores edições de 2003, 2007, 2011 e 2015.
«Esse recorde representa bastante. Pois não é só a Marta, mas é um recorde das mulheres»
Como já havia feito no jogo contra a Austrália, Marta apontou para a chuteira ao marcar o golo que garantiu a vitória do Brasil.
Além disso, a jogadora de 33 anos chamou a atenção por outro motivo: jogou maquilhada, com um batom de cor forte, inédito na sua carreira.
O novo look tem explicação: Marta renovou contrato com a marca de cosméticos Avon e ressaltou a cor “Sangria”.
Além de ultrapassar Klose, Marta igualou um feito de Pelé – foi ele o primeiro a fazer publicidade em Mundiais quando se baixou para atar as suas chuteiras personalizadas no Campeonato do Mundo de 1970, no México.
«Será que ele vai voltar atrás e querer jogar a próxima Copa?» Marta sobre Klose
Desde julho de 2018 que Marta não tem patrocinadores. Segundo o agente da futebolista, Fabiano Farah, é assim porque nenhuma marca aceita pagar à jogadora o que paga a atletas masculinos com as mesmas conquistas e com a mesma representatividade que ela.
“Marta é um modelo excecional para mulheres e raparigas em todo o mundo. A sua experiência de vida conta uma história poderosa do que pode ser alcançado com determinação, talento e coragem”, disse à época a diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, para explicar a escolha da futebolista para a organização.
Grupo C
1.º Itália 6
2.º Austrália 6
3.º Brasil 6
4.º Jamaica 0
(passam os 3 primeiros)
Hegerberg recusou-se a jogar pela seleção
Um gesto semelhante ao de Ada Hegerberg. Vencedora da Bola de Ouro, a norueguesa de 23 anos recusou-se a participar neste Mundial.
Hegerberg renunciou à seleção da Noruega em 2017, logo após o final do Europeu, e não voltou a representar o país desde aí. A inexistência de apoio à equipa feminina dentro da Federação, num país onde o futebol feminino é largamente mais bem sucedido do que o masculino.
«Não éramos levadas a sério. Não existia uma cultura de treino com qualidade nem existia a vontade de ser melhor. A seleção dá-me um sentimento depressivo»
Há três semanas quando marcou um hat-trick na goleada 4-1 do Lyon sobre o Barcelona na final da Liga dos Campeões, Hegerberg envolveu-se numa bandeira da Noruega durante os festejos. “Tenho saudades de jogar pelo país, não tenho saudades de jogar pela minha Federação”.
Mundial de contrastes
A Tailândia apresentou-se com uma equpa de amadoras e sofreu a maior derrota da história, um impressionante 13-0 frente às profissionais dos EUA.
Mas nem por isso o momento mais emocionante na prova até ao momento deixou de pertencer às tailandesas.
Apenas um golo bastou para as jogadoras fazerem a festa (têm uma diferença de golos de 18-1 e estão eliminadas do Mundial com um jogo ainda por disputar).
Mas não foi apenas o golo, foi o que o feito de Kanjana Sung-Ngoen representou para o país que praticamente não facilita qualquer apoio à seleção feminina.