É perfeitamente normal que ontem, por volta das 21h30, os seus vizinhos tenham chamado a polícia.
Qualquer agente da autoridade perdoaria a questão, bastando para isso explicar que a berraria se deveu ao festejo do primeiro apuramento da selecção nacional de andebol para uns Jogos Olímpicos.
Perdoem-se também os vizinhos, que não ligam a desporto.
Mas não há como negar a importância, não só pela dimensão inédita, mas pelo momento que todo o andebol português está a passar depois da morte do guarda-redes luso-cubano do FC Porto, Alfredo Quintana.
Mais simbólico era impossível. Em Tóquio, com Quintana no peito.
🇵🇹 𝕌𝕄𝔸 ℕ𝕆𝕀𝕋𝔼 ℚ𝕌𝔼 𝔽𝕀ℂ𝔸ℝ𝔸 ℙ𝔸ℝ𝔸 𝔸 ℍ𝕀𝕊𝕋𝕆ℝ𝟙𝔸 💥
🔁 Highlights 🇵🇹🇫🇷⁰@ihf_info ⁰@Tokyo2020 ⁰@RTP2 #letsgovamos #heroisdomar #superportugal #seleçãonacionalandebol #portugal #vamoscomtudo #andebol pic.twitter.com/8nPiDbIzIp
— Federação de Andebol de Portugal (@AndebolPortugal) March 15, 2021
E no braço.
Rui Silva, capitão da selecção nacional e colega de Quintana no FC Porto, o homem que marcou o golo decisivo a cinco segundos do final, ontem, contra a França, desequilibrando a balança para 29-28, tem uma tatuagem enorme do ex-guarda-redes e foi para ele, seguramente, a dedicatória.
🌊 ℍ𝕀𝕊𝕋𝕆ℝ1ℂ𝕆𝕊 🇵🇹@ihf_info @Tokyo2020 #letsgovamos #heroisdomar #superportugal #seleçãonacionalandebol #portugal #vamoscomtudo #andebol #jogossantacasa #aguamonchique #lidlportugal #porportugalporti #tokyo2020 pic.twitter.com/pZRnuVy3sM
— Federação de Andebol de Portugal (@AndebolPortugal) March 14, 2021
Recuemos a cassete.
Portugal
- que tem um sexto lugar no Europeu 2020
- e um décimo lugar no Mundial 2021
reuniu-se em Montpellier com
- a França
- a Croácia
- e a Tunísia
(um grupo de onde saíam dois apurados para Tóquio)
Na sexta-feira, com relativa facilidade, a turma de Paulo Jorge Pereira superou a equipa africana por 27-34, ainda que não tenha feito um jogo brilhante, sobretudo no momento defensivo.
🔛 🇵🇹 Portugal irá disputar, pela primeira vez na sua história, o acesso a @Tokyo2020 , nos dias 12, 13 e 14 de março 🔥
Agenda:
12/03 – 17h30 – 🇹🇳 Tunísia ⚔️ Portugal 🇵🇹
13/03 – 17h30 – 🇭🇷 Croácia ⚔️ Portugal 🇵🇹
14/03 – 20h00 – 🇵🇹 Portugal ⚔️ França 🇫🇷📺 @RTP2 pic.twitter.com/0Lm6YWp5Wj
— Federação de Andebol de Portugal (@AndebolPortugal) March 7, 2021
No sábado, diante da Croácia e supostamente o adversário directo dos portugueses — acreditando que a França estaria um nível acima —, Portugal claudicou de forma evidente.
Dominou o jogo quase todo de forma inteligente, chegando mesmo a ter 6 golos de vantagem a uns 20 minutos do final do jogo.
Mas a espiral mental negativa que parece afectar esta equipa em momentos de pressão, aqueles onde é preciso gelar e deixar lá os pés, revelou o seu rosto.
Os croatas foram ganhando confiança e chegariam mesmo à vitória, graças a um Luka Cindric que ainda sem joelhos, conseguiu dar a vitória a um país que já viveu melhores momentos no que ao andebol diz respeito.
ANDEBOL | Sonho adiado
Portugal perde pela margem mínima com a Croácia e coloca em xeque a participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
🇹🇳 27 X 34 🇵🇹 ✅
🇭🇷 25 X 24 🇵🇹 ❌
🇫🇷 X 🇵🇹 – Amanhã às 20:00 pic.twitter.com/fxlbwyVB5y
— Cabine Desportiva (@CabineSport) March 13, 2021
O testamento foi lido.
Devem ter-se dito frases como “fica para a próxima”.
Mas Portugal, numa demonstração estoica de força e de fé, nunca deixou de acreditar.
Entrou no jogo a perder 3-9, a jogar de forma profundamente apática, sem ideias, mas lá conseguiu dar a volta e chegar ao intervalo a perder apenas por um, graças a um endiabrado André Gomes e a muita paciência no momento ofensivo.
Na segunda parte, parecia possível.
Pareceu quase sempre possível.
Menos quando a dois minutos do fim, os franceses colocam a vantagem na marca dos dois golos e a fé esfumou-se.
Mas talvez isso só tenha acontecido nas casas dos portugueses, porque em Montpellier qual quê, cerraram-se os dentes e aqui vai disto.
Empatámos o jogo a 30 segundos do fim, subimos a defesa, obrigámos a França a cometer jogo passivo e, por consequência, um passe errado, interceptado por Rui Silva, que foi até ao fim e fez o golo.
An unbelievable finish 🤯 Just when it looked like the dream was over, 🇵🇹 Portugal scored two goals in the last minute against France to qualify for the Olympic Games for the first time in history 🔥#Tokyo2020 @AndebolPortugal pic.twitter.com/Q5tA6LcoAk
— International Handball Federation (@ihf_info) March 14, 2021
O pior foi quando Valentin Porte introduz a bola dentro da baliza de Gustavo Capdeville ao cair do pano.
Mas, pelos vistos, o pano já tinha caído e a bola entrou na baliza depois do apito final.
E foi aí que os vizinhos chamaram a polícia.
Gritos, choro e memórias de Quintana, dedos apontados para o céu.
Falamos de uma selecção que com a morte de Quintana e a ausência por lesão de Humberto Gomes apresentou dois jovens guarda-redes, além de Capdeville, do Benfica, Manuel Gaspar, do Sporting, também se apresentou a bom nível neste fim-de-semana.

Falamos de uma selecção que não contou com Gilberto Duarte por lesão, membro essencial na manobra defensiva.
E falamos de um grupo que viveu — e por certo ainda vive — momentos complicadíssimos a nível emocional, pela perda de um ídolo e amigo, de forma súbita e injusta.
Dito tudo isto, falamos de uma selecção que parece capaz de tudo.
Connosco em Tóquio:
- França
- Alemanha
- Suécia
- Brasil
- Japão
- Espanha
- Dinamarca
- Noruega
- Bahrain
- Egipto
- Argentina